Eu e o outro formam uma dualidade, da mesma forma que eu-tu, sim-não, belo-feio.A língua é um sistema de signos que exprimem, cada um deles, uma relação ao outro par dual e ao todo em que se integra. Por exemplo, quando eu digo "mulher" este signo tem uma relação intrínseca com a palavra "homem", mas também com as acções que a complementam como, por exemplo, a dos verbos (é, está, senta-se, etc.) assim como com toda uma série de combinações possíveis (adjectivos linda, feia; advérbios, constantemente, etc.). Este sistema, a língua, existe como uma representação abstracta da realidade. Por exemplo, na frase "A mulher olhou para o espelho" quando observamos este acto na realidade olhamos o todo e não a mulher+olhar+espelho. Esta é uma forma completamente abstracta e arbitrária de nos expressarmos através de um sistema de representação tão abstracto quanto a linguagem matemática. Decidiu-se chamar "mulher" à mulher, não existe nenhuma relação entre este signo e a realidade concreta (a prova é que noutras línguas se diz de outra forma: femme, woman, frau, etc; mesmo as interjeições que parecem tão naturais são escolhas arbitrárias como a interjeição que exprime dor: "ai" em português, em inglês é "ouch", etc. A percepção da realidade humana, moldada por conceitos abstractos adquiridos aquando da aprendizagem da linguagem (que começa ainda no ventre materno e se começa a manifestar quando a criança diz "mamã, papa"), é uma forma de categorizar o mundo, de o rotular, limitando-o, portanto. Quando a criança diz "mamã" distancia-se dela, criando a noção de dualidade entre ela e a mãe, criando a individualidade, uma identidade própria que se vai aprofundando cada vez mais à medida que a sua capacidade de raciocínio lógico-abstracta aumenta. Se é bastante eficaz ter um meio de comunicação como a língua, também é verdade que quanto mais abstracta e arbitrária ela for, mais nos afasta da realidade que pretende representar. Esse fosso criado entre a realidade e a representação pelo uso permanente de conceitos torna-se tão eficaz que chegamos ao estado em que na nossa mente parece nada mais existir do que pensamentos. Por exemplo, observamos algo e imediatamente a seguir pensamos "gosto disto" ou o contrário, e a seguir dizemos "mas e se isto..." e fazemos conjecturas e respondemos às nossas próprias afirmações e gastamos o dia nisto: em pensamentos discursivos interiores. Entretanto, a realidade passa-nos ao lado. Este eu-tu é uma dualidade artificial. Temos no corpo várias órgãos, mesmo aqueles que funcionam de forma autónoma não são entidades individuais e independentes, mas fazem parte, cada um deles, de um todo, o corpo. Assim também os seres humanos e os outros seres, a natureza, etc. tudo o que compõe o universo faz parte de um todo e cada um de nós é apenas um ponto, elemento bem pequeno desse todo. Esta nossa "pequenez" é bem visível quando mudamos a perspectiva. Olhando a Terra por um telescópio veremos que a morte de um ser humano não é mais importante do que um acidente sísmico destruidor de milhares de seres, contudo, se esse ser formos nós, somos capazes de duvidar... Foi nesta perspectiva, pensando no todo e nos elementos que o constituem que referi no blog "Eu" que os meu rosto não importa, nem a minha identidade e que apenas é importante na medida em que reflecte todos os rostos de todos os seres. Voltarei a este assunto. :)
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